A Incapacidade funcional de adultos no Brasil e prevalência e fatores associados

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Cada caso é um caso
Recuperação as vezes demorada

A cada 10 adultos brasileiros, quatro são afetados por incapacidade funcional. Os resultados do modelo multivariado indicam que algumas variáveis dos componentes proximais, intermediários e distais foram estatisticamente associadas à limitação funcional.

Existe pequena variação da prevalência de incapacidade funcional nos inquéritos realizados no País. A PNAD indicou 25,0% em 1998 e 22,7% em 2003. Estimativa da Pesquisa Mundial de Saúde (2002 a 2004) apontou proporção de 16,8% dessa limitação funcional no Brasil. Essa pesquisa indicou ainda que a frequência no mundo é estimada em 15,6%, variando de um mínimo de 4,3% na Irlanda e Noruega e 35,9% na Suazilândia na África do Sul. O Nacional Health Interview Survey (2001 a 2005) mostrou que 21,0% dos americanos tinham dificuldade para caminhar. Tais variações podem refletir diferenças na idade de recrutamento e nos instrumentos usados na aferição.

Incapacidade funcional é mensurada utilizando a variável de mobilidade física “dificuldade para caminhar cerca de 100 metros”, considerada um indicador de incapacidade funcional moderado. As variáveis “atividade básica da vida diária” e “dificuldade para alimentar-se, tomar banho ou ir ao banheiro” mensuram um estágio avançado da incapacidade, pouco útil quando se pensa em prevenção e intervenção. Já “dificuldade para caminhar 1 km” é apontada como uma mensuração de envelhecimento ativo e não um indicador de incapacidade em mobilidade física.

Ter plano de saúde foi fator protetor à incapacidade funcional. É presumível que indivíduos filiados a um plano busquem mais frequentemente os serviços e tenham maior adesão aos tratamentos, colaborando para a prevenção e melhora da capacidade funcional.

Residir em área urbana é fator associado significativamente a essa limitação. Estudos nacionais observaram esse efeito. Adultos que residem em áreas urbanas apresentam melhores condições de vida, maior disponibilidade e acesso aos serviços preventivos e assistência médica especializada.

Quanto maior o nível educacional e a renda do adulto, menor a chance de ter incapacidade funcional, o que confirma achados prévios. A educação determina vantagens para a saúde, pois favorece o acesso a informações, mudança do estilo de vida, inserção de hábitos saudáveis e procura por serviços de saúde. Os adultos hipossuficientes procuram menos os serviços de saúde e possuem pouco acesso aos tratamentos e medicamentos.

A incapacidade funcional relacionou-se com a atividade econômica do indivíduo. Estudo prévio aponta que indivíduos inativos apresentam poucas dificuldades com as atividades de vida diária quando comparados àqueles que não trabalham.

A internação hospitalar associou-se com a incapacidade funcional, reforçando achados prévios. A síndrome do imobilismo observada no sétimo dia de internação hospitalar induz limitações funcionais.

Declínio funcional associou-se com hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, artrite ou reumatismo, e doença cardíaca. Tais achados são consistentes com outros estudos. A hipertensão arterial sistêmica é fator de risco para o acidente vascular encefálico e consequente incapacidade. A associação entre diabetes mellitus e incapacidade funcional é devida a múltiplos fatores, pois a doença está relacionada, sobretudo, a complicações vasculares e neuropáticas que afetam a capacidade funcional. O comprometimento das articulações de pacientes com artrite ou reumatismo impedem maior mobilidade e movimento, induzindo a incapacidade.8 Indivíduos com doença cardíaca apresentam desequilíbrio entre o suprimento e a demanda circulatória de nutrientes e oxigênio para a musculatura esquelética, afetando potencialmente a mobilidade física.

A chance de ter incapacidade funcional é maior entre os homens e aumenta com a idade. Dados nacionais observaram esse efeito. O envelhecimento aumenta a vulnerabilidade, os riscos de agravos e a prevalência de doenças crônicas, que induzem à incapacidade. Contudo, a exposição a condições adversas e inadequadas durante a vida adulta propicia prejuízos funcionais precocemente. Além disso, os homens são mais expostos à violência e acidentes em particular durante a juventude. Programas de prevenção devem orientar os jovens e não apenas a população idosa.

O estudo transversal tem limitações que sugerem interpretação cautelosa dos nossos resultados. É difícil interpretar associações em termos de relação causal. Adicionalmente, o viés de sobrevivência pode estar subestimando as associações observadas. Afora disso, o inquérito não abordou algumas variáveis relacionadas ao estilo de vida e, portanto, não foram incluídas no presente estudo.

Por outro lado, esta análise dispõe de cuidados metodológicos que conferem maior validade aos resultados encontrados. Os pesos amostrais foram ponderados e optou-se por um modelo de regressão apropriado para esse tipo de análise. Foram excluídos os proxy-respondentes para evitar o risco de viés de informação e realizaram-se análises de sensibilidade para avaliar e minimizar o efeito do acaso.

Incapacidade funcional é comum entre os adultos brasileiros. A internação hospitalar é o fator mais fortemente associado, seguida de atividade econômica e doenças crônicas. Sexo, idade, escolaridade e renda também são associados. Os resultados indicam alvos específicos para ações que abordem os principais fatores associados à incapacidade funcional, e contribuem na projeção de intervenções para a melhoria do bem-estar e promoção da qualidade de vida dos adultos brasileiros.

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